terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Alice D. se descabelava em frente à TV
quando imaginava o beatle John
segurando a sua mão
sem perceber o que fazia,
Alice D. dançava sozinha no seu quarto
oito dias por semana
na,na,na,na,na,na,na,na

- ei, doutor, o que há de errado
em gostar de escutar os meus discos dos beatles?!?
não vejo nenhum problema nisso
- bem, garota, não é um mistério,
seu distúrbio é um caso sério e esquisito
receito tratamento imediato
na,na,na,na,na,na,na,na
Faichecleres





é John, a gente também não escuta mais as batidas.

não com o estetoscópio.
escutamos com os olhos fechados e a vitrola ligada com algum dos seus vinis arranhando na agulha.

[8 de dezembro de 1980]

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

no compasso
[passo]
pra frente
me amarro

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

é hora de silenciar-se

isso não é difícil
torna-se quando, lá dentro, tudo pulsa com vigor extremo
enquanto cá fora os olhos só querem o verde e um girassol

terça-feira, 3 de novembro de 2009

No solado das botas estão as esperanças dele. Sem saber que estão lá, fica mais fácil. Assim ele não pode joga-las fora. Por que se soubesse já teria feito. Ele diz que "do que adianta ter um relógio se não pega mais corda?!". Pra ele tudo é uma questão de tempo. Ou pára de funcionar, ou vai embora, ou deixa de existir. As coisas que se vão dão lugar as lembranças, as vezes persistentes, as vezes vagas. Mas, tudo chega a um fim derradeiro. O tempo foi realmente importante pra ele. Parou suas pernas. Dia-a-dia pára sua memória. Só que a esperança continua lá, presa no solado das botas.
E vai continuar pra sempre...

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Coitado do passado
sempre foi os olhos do futuro

Mesmo com lentes desfocadas,

não merecia o escuro
de tudo que é
grandioso
e
imenso
eu
só quero mesmo
o
infinito

sábado, 12 de setembro de 2009

além dos teus olhos
só vejo o mar aberto
e nenhum barco pra até lá chegar

faz do porto tranquilo
um remoto amanhã

balança como as ondas
meus pensamentos
fazendo da suave brisa
um temporal inteiro

debruça-te sobre a minha pele
e faz dela tua janela para o horizonte

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

ela queria...

pescar o sol com a linha do horizonte
jogar o anzol, esperar o seu nascer
e quando ele tivesse mordido a isca, puxar
depois guardar num cesto
fazer o dia renascer quando bem quisesse

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O mês tá indo embora e vai levando com ele
as promessas que ela fez sem cumprir.

Na vitrola Zeca Baleiro diz
"não quero medir a altura do tombo,
nem passar agosto esperando setembro".

Ouvir ela até ouve, mas não toma pra si.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

"e eu, que estou bem com a vida,
creio que para saber de felicidade
não há como as borboletas e as bolhas de sabão,
e o que se lhes assemelhe entre os homens."

[Nietzsche]


na vitrola: mama cadela - em busca da verdade


domingo, 9 de agosto de 2009

Imóvel. Inerte. Parado. Aquele órgão que pulsava constante dentro deles parecia que assim estivera. As leis corpóreas haviam se modificado a tal ponto que havia mesmo acontecido? Talvez, por um breve instante. Foi logo após o momento em que ela colocou a mão sobre a caixa que guardava seu órgão vital e disse-lhe “é seu, todo seu”. Arrancando com veemente força de dentro de si, passava a estar agora em suas mãos, coberto por músculos, pingando o liquido venoso que também por seu corpo transitava. De mãos estendidas em gesto de oferta repetia-lhe “é seu”. Foi nesse breve instante que ele sentiu o órgão similar aquele que via em sua frente parar. Ideias imóveis. Corpo sem substancia Abruptamente, como quem abre afoito uma porta de emergência, abriu sua caixa torácica e o tirou de lá. Novamente através de um movimento repentino depositou-o na cavidade torácica dela. Um diante do outro viam, absortos no silêncio, o pulsar do órgão. “Sempre lhe pertenceu”, disse ele. Com a cautela proveniente de sua natureza feminina, ela levou seu órgão ainda quente ao vazio corpo e o depositou. Agora o pulsar em ambos era frequente.
Ao abrirem os olhos ao mesmo instante, quase que involuntariamente, se olharam. Não haviam marcas em seus corpos e o lençol continuava alvo. Voltaram a dormir.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

terça-feira, 21 de julho de 2009

rasgaram o seu cetim azul com dentes afiados.
enquanto ela bailava no salão envolta pelo olhos alheios cintilantes.
nunca rasgou o cetim de alguém.
e apesar de saber que as pessoas possuem dentes como facas,
achou que nunca teria seu cetim rasgado com tanta veemência.

"linhas, costuras pra que te quero!?"
agora é hora de ver se ela sabe costurar de verdade.

sábado, 27 de junho de 2009

anatomia de um mo(vi)mento II

olhos percebem olhos
e o sorriso vem aos lábios,
involuntário
braços se estendem ao infinito
pernas entram na dança do correr e saltitar
o corpo se lança ao estimulo
mãos se entrelaçam um no outro

o abraço se faz

quarta-feira, 24 de junho de 2009

a
folha
ca
í
da
chora o outono do ano pas s a d o

quarta-feira, 17 de junho de 2009

olhos que pedem
e perdem
de novo o novo
finge que ouve fala
adormece
esquece
por si sol

domingo, 7 de junho de 2009

eu beberia o mundo inteiro num gole só
tamanha é minha sede de infinito

sábado, 6 de junho de 2009

preciso




dos ouvidos bem abertos pra minha voz,
das bocas pra conselhos,
dos olhos conhecedores da minh'alma,
de silêncios regados de carinho
da velha cumplicidade absorta no ar

[des]encontrada
impaciente por [re]encontros
aqui
eu
vocês


quinta-feira, 4 de junho de 2009

etecéteras

Ventanias, grandes tempestades, deixo pro tempo que tem competência. Dizem que quem colhe uma semeia a outra. Não acredito não. Muita audácia dessa gente achar pode. Não quero o mar inteiro, em um copo d'água já consigo mergulhar. Um olhar, dois, três. Uma infinidade deles, eu absorvo. E devolvo também. Palavra é que é abstração. Roda, roda em nossa mente, e se esvai. Mas, vai pra onde?! Pra onder der no telhado de alguém. Não precisa ser em um pensamento que tá aqui diante dos olhos. Pode ser lá na lua também. É, no telhado do coelho ou do cavalo de São Jorge. Por que tem gente que vê coelho, mas tem gente que vê cavalo a galope. Acho que é por isso que ela corre daquele jeito. Tem jeito não, a mãe já falou que um dia cai. Mas se caísse, cairia bem quentinha no meu travesseiro. Eita, lêlê! Não sei se travesseiro guarda mesmo o sonho da gente não. O meu é fininho. Não tem quem diga. Mas vai saber né?! Se for feito de algodão, pode até ser. Algodão é uma coisa engraçada. Dá no céu e dá no chão. O céu pode até ser longe, mas com uma escada eu creio que a gente põem a mão. Longe mesmo é o horizonte. Sei não, mas acho que um dia chego lá.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Que livro você é?

foi o que eles disseram. e eu fiquei feliz em ouvir

Antologia Poética -

Carlos Drummond de Andrade

"O primeiro amor passou / O segundo amor passou / O terceiro amor passou / Mas o coração continua". Estes versos tocam você, pois você também observa a vida poeticamente. E não são só os sentimentos que te inspiram. Pequenas experiências do cotidiano – aquela moça que passa correndo com o buquê de flores, o vizinho que cantarola ao buscar o jornal na porta – emocionam você. Seu olhar é doce, mas também perspicaz.

"Antologia poética" (1962), de Drummond, um dos nossos grandes poetas, também reúne essas qualidades. Seus poemas são singelos e sagazes ao mesmo tempo, provando que não é preciso ser duro para entender as sutilezas do cotidiano.



sexta-feira, 15 de maio de 2009

o Sol amarelo
pintou a Lua prata
de vermelho

a manhã amanheceu sorrindo

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Ana


Ana saía todos os dias naquele mesmo horário para as aulas de piano. Era o momento mais tranquilo e sereno que conseguia ter em seu dia atribulado. Quando chegou ao saguão estranhou todo aquele silêncio, como uma escola de música poderia estar tão muda?! Havia somente ela, o piano, a escuridão no salão, e o silêncio. O piano estava a implorar por um som, e Ana como o entendia perfeitamente, sentou-se ao banquinho, estalou os dedos como de costume e pôs-se a tocar. Tocou uma valsa lenta, uma modinha, e até arriscou um clássico. Quando os seus dedos pararam de tocar as teclas, Ana as encarou e começou a vê-las de uma forma como nunca as tinha visto. Pensou em todas as pessoas que sentavam ali naquele mesmo banquinho, para tocar aquele mesmo piano, mas as melodias que entoavam não eram as mesmas, nem a forma como acariciavam as teclas. Pensando nisso veio a sua mente a ideia de que nada ali era mais o mesmo, como achara antes a olhos vistos. Não era o mesmo banquinho, nem o mesmo piano, nem a atmosfera era a mesma, pois haviam sido modificados por todos que ali estiveram. A partir do momento em que ela se sentou, estalou os dedos, tocou nas teclas do instrumento, e este por sua vez produziu sons tão distintos, modificou para sempre tudo naquele lugar, até a atmosfera que deixou de ser silenciosa e passou a ser sonora, nada permaneceu do mesmo modo, tudo mudava a cada instante, era um constante fluir.


na vitrola: 3namassa - na confraria das sedutoras

quinta-feira, 19 de março de 2009

novo

no balanço deixa-se balançar
na roda que se forma quem entra parece que já sabe sambar
mas a canção muda
e essa mudança deixa o povo bambo
e assim se faz toda a beleza,
aquele povo todo aprendendo a sambar de novo
só enquanto a canção não muda.

segunda-feira, 2 de março de 2009

"relaxa baby e flui: barquinho na correnteza, Deus dará"
(caiu fernado abreu)


sim senhor, Caiu!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

anatomia de um mo(vi)mento

boca lê cabeça
e silencia
as mãos molhadas
denunciam
o mundo roda, roda, roda
e para no olhar


na vitrola: Chico incessantemente

domingo, 8 de fevereiro de 2009

visão da outra margem

O menino disse que gostava de viver ali e fazer o que fazia. Que lá era assim, todo mundo igual. O rio trazia e levava sem diferenciar ninguém, fazendo parecer que o mundo inteiro nem conhecia essa coisa de continente e povo diferente, era o mundo inteiro igualzinho. E disse que toda a beleza que eu via não foi criada apenas pra olhar, e sim pra contemplar, o que a maioria não fazia. Apesar da pouca idade de vida que tinha, e do pouco que conhecia dos outros lugares por viver ali, o menino sabia mais, muito mais que os homens que ele levava.


quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Pedro

Pedro tinha um violão, falava manso e sabia olhar por dentro. O que ele mais gostava era de sair pelas ruas olhando pra dentro de quem passava, pronunciar palavras mansas e escorregar seus dedos pelas cordas do instrumento, até que todos os seus gestos virassem música. Só voltava pra casa quando as cordas do violão se afrouxavam. Pedro se conheceu de fora pra dentro, dos outros pra si. Cada canção que compunha era um orgão a se formar em seu corpo, um sentimento descoberto. E quando as cordas se afrouxavam, ele as apertava com cuidado para que no outro dia pudesse voltar as ruas e se compor novamente.
O poema de amor tomou um
por _______________ re
e saiu por ai a
__________tro

_____________pe
_______________çar
__________________caiu
na calçada da donzela
e por-se a ela se lamentar


nos lamentos do poema a donzela viu espelho
abriu o portão e c _ a_ i_ u -
_____________________se de joelhos.